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Cana: combustível das artes e do povo

Determinante em um ciclo na história do Brasil, que, além de econômico e social, também é densamente folclórico, a cana-de-açúcar é o centro da vida colonial, a senzala, a casa grande e, por fim, o açúcar, alimento básico da doçaria brasileira. Sua industrialização tirou da cana o enorme prestígio popular, mas o que vem dela e o que lhe é devido são imensos.


Militão dos Santos - Engenho de cana, acrílico sobre tela, 2007


O trabalho Militão é pautado em um movimento conhecido como arte naïf. Trata-se da arte da espontaneidade, aliada à criatividade autêntica, em que a produção artística não possui orientação, portanto é instintiva. As pinceladas são carregadas em cores, observa-se uma riqueza de detalhes e a inspiração costuma vir da iconografia popular e do resgate da memória.

Até o século XVII, o Brasil era o maior produtor mundial de açúcar. No nordeste, do Recôncavo Baiano ao Rio Grande do Norte, cultivava-se cana-de-açúcar. Os núcleos principais de produção foram Bahia e Pernambuco. Rio de Janeiro e Espírito Santo cultivavam cana em menor escala e, de forma predominante, para a produção de aguardente que servia de moeda de troca por escravos na África.

No Brasil, a iguaria, que ficou conhecida por andar junto com a farinha do sertanejo, ganhou fama. Das mochilas de personagens famosos como Lampião, o Rei do Cangaço, a rapadura rumou às prateleiras dos supermercados, para a mesa de muitas famílias, assim como para a receita de requintadas composições gastronômicas.


Cícero Dias - Engenho Noruega, gravura aquarelada, 1933

Cícero Dias nasceu e cresceu em um engenho próximo a Recife. Da paisagem dos canaviais veio a inspiração do artista que revelou em seu livro Cícero Dias – anos 20: “Não há nada mais belo do que o movimento marítimo dos canaviais soprados pela brisa do mar”. Com Gilberto Freyre relembrou o seu passado de menino criado em engenho. Junto ao sociólogo, o pintor percorreu engenhos e senzalas de todo o estado de Pernambuco, em busca de material para sua obra Casa Grande & Senzala ilustrada por Cícero Dias (imagem acima).


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